A África do Sul viveu intensos e tristes anos sob o regime do Apartheid, que segregava os negros dos brancos e suprimia a maioria negra que vivia no país. Um dos eventos pós-Apartheid que mais nos lembramos para falar sobre o começo da reconciliação do país é a Copa do Mundo de Rugby de 1995. A competição foi vencida pela seleção sul-africana em casa e com muita união de brancos e negros tanto na torcida quanto na própria seleção, em participação ativa de Nelson Mandela.
Mas, além desse evento memorável, não podemos esquecer de outra grandiosa conquista do país no esporte e que também trouxe um sentimento de unidade ao país, a Copa Africana de Nações de futebol de 1996. Assim como a Copa do Mundo de Rugby não tinha os sul-africanos como favoritos, no futebol o favoritismo da nação era menor ainda.
Antes de falar da campanha, vamos aos personagens principais. O goleiro da equipe era Andre Arendse, que foi quatro vezes campeão sul-africano e na época da Copa Africana defendia o Santos Football Club, sim, uma homenagem ao Santos brasileiro. Arendse defendeu a seleção por 67 jogos e chegou a ser goleiro do Fulham por duas temporadas. de 98 a 2000.
Sizwe Mountag era o zagueiro da equipe. Ele passou por Leeds, Tenerife e até o Saint Gallen, da Suíça, além de clubes sul-africanos. Na época da CAF ele jogava no próprio país e disputou 26 jogos pelos Bafana Bafana.
Eric Tinkler era um dos meio campistas da seleção. Ele rodou por Portugual, Inglaterra, Itália e estava no Vitória de Setubal em 96. Phil Masinga foi um dos jogadores de maior sucesso do país. O atacante rodou por Inglaterra, Itália, Suíça e passou até no oriente médio. Na época da CAF estava defendendo as cores do Leeds. O onze inicial da equipe normalmente contava com Arendse, Motaung, Tovey, Fish, Niaty, Tinkler, Buthelezi, Moshoeu, Khumalo, Williams e Masinga. E o comandante da equipe era Clive Barker, renomado treinador no país que desde 1973 rodou por equipes até em 1994 chegar ao selecionado nacional. Por obra do destino, sorte, ou coincidências da vida, o Quênia não conseguiu se preparar como sede da CAF de 96 e assim a sede ficou com a África do Sul.
Por causa do regime do Apartheid, a África do Sul ficou por muitos anos proibida de participar de competições esportivas internacionais. No ano anterior, 95, a equipe enfim conseguiu realizar mais amistosos e participou de uma copa, tendo boas atuações contra Egito e Costa do Marfim.
Foto: Getty Images |
A Campanha
No primeiro jogo, com quase 80 mil presentes no FNB Stadium, a África do Sul encarou a poderosa seleção de Camarões, sensação da Copa de 94. Porém, os camaroneses já não contavam com vários talentos, que eram comandados por Roger Milla na Copa. Sem tomar conhecimento, a seleção da casa atropelou os leões indomáveis e venceu por 3 a 0, gols de Masinga aos 14, aproveitando lançamento longo, Williams aos 37 sendo oportunista no bate-rebate da área e Moshoeu aos 10 da segunda etapa, tabelando com Masinga e invadindo a área para tocar na saída do goleiro.
No segundo duelo, partida equilibrada diante de Angola. O gol saiu na segunda etapa, aos 13 minutos, com Williams. Final 1 a 0.
Já na terceira partida, jogo contra a grande seleção do Egito. Os Bafana Bafana não foram tão bem e logo aos sete minutos viram El Kass marcar o gol da vitória egípcia. Mesmo com a derrota, a seleção da casa se classificou em primeiro lugar no grupo, com saldo melhor que os egípcios, 3 contra 1.
Nas quartas de final, uma partida que foi a famosa prova de fogo da equipe da casa. O jogo foi contra a Argélia e como podemos ver nos melhores momentos abaixo, a partida foi bem disputada. A seleção da casa saiu na frente já aos 27 minutos, com Mark Fish dando um carrinho oportunista na área. O empate saiu já na bacia das almas, aos 39 minutos. Tarik Lazizi subiu bem no escanteio para marcar para a Argélia. Mas, na vontade, no minuto seguinte, John Moshoeu aproveitou a bola na intermediária e acertou chute certeiro no canto, 2 a 1 e festa no estádio.
Na semifinal, outra pedreira no caminho sul-africano, dessa vez Gana, que era comandada por nada menos que Abedi Pelé, o maior artilheiro e jogador da história do país, mas que suspenso não jogou. E, assim como no confronto com Camarões lá na primeira fase se esperavam dificuldades, o passeio da seleção da casa foi igual. Moshoeu marcou dois gols, um aos 22 e outro aos 42 da segunda etapa, enquanto Williams fez o dele com um minuto da etapa final.
Com 80 mil presentes no FNB Stadium, a África do Sul entrou em campo diante da Tunísia em busca do título inédito. O nervosismo atrapalhou a equipe, que errou muito na primeira etapa e acabou passando zerada no placar. No segundo tempo, o time colocou mais a bola no chão e conseguiu concretizar as jogadas. Aos 28 minutos, falta cobrada, a bola foi desviada de cabeça, o goleiro errou e chegou na segunda trave em Masinga, que cruzou na medida para Mark Williams cabecear e abrir o placar.
Dois minutos depois, erro na saída de bola da Tunísia, com Radebe tomando a bola e tocando para Williams, de novo ele, entrar na área e tocar fora do alcance do goleiro, 2 a 0.
Um título que entrou para a história do futebol e também da África do Sul como um todo. Se o esporte pode transformar a sociedade, podemos dizer que ele fez bastante pela África do Sul com as conquistas no futebol e no rugby.
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