quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Entrevista - Leonardo Miranda e a tática no futebol



Estudo e valorização da tática se tornam fundamentais no futebol atual - Fonte: Footstats

No futebol que podemos chamar de moderno, toda e qualquer informação a mais para os times vale muito, principalmente para os resultados dentro de campo. A difusão desses estudos e de todo o trabalho para se entender o futebol de uma maneira diferente e mais ampla vem ocorrendo gradualmente. Para falar sobre o assunto, fomos conversar com o jornalista Leonardo Miranda, um dos grandes especialistas no assunto no Brasil.

Como você se interessou por estudar e trabalhar com a tática no futebol?

Comecei a gostar de futebol com mais ou menos 15 anos já com esse olhar mais para o técnico, as estratégias e como as peças se encaixavam. 

Você tem alguma referência de jornalista que trabalhe com tática e de certa forma o inspirou para seguir no trabalho?

Me inspirei bastante em sites estrangeiros e aqui no Brasil com o Paulo Vinícius Coelho. Como fui um dos primeiros a falar do assunto na grande mídia, simplesmente não havia muito em quem se inspirar. Hoje temos grandes profissionais dando esse olhar mais técnico.

Tem algum treinador brasileiro que você acredita ser no nível próximo ou igual dos treinadores europeus quando se fala em tática?

São vários: Tite, Roger Machado, Zé Ricardo, Eduardo Baptista, Dorival Júnior, Zago e tantos outros...há uma grande reciclagem e também um bom número de profissionais da base e de análise de desempenho que estão ganhando mais espaço.

E qual treinador estrangeiro você acredita que seja a grande referência no estudo e aplicação da tática nos clubes que treinou?

Acho que Jurgen Klopp, Tomas Tuchel, Guardiola e Sampaoli são referências em tática por onde passaram.

Imagem de análise via No Teclado

Na televisão, principalmente a cabo, os jornalistas vem trazendo mais números e usando os recursos tecnológicos para mostrar mais a movimentação das equipes e os dados estatísticos. Você acredita que isso seja uma tendência e que a análise do futebol pelos jornalistas será mais baseada nesse lado do que apenas nos lances factuais do jogo?

Acredito que há espaço para tudo, e que o público quer ver uma análise mais qualificada, o que não inviabiliza outros formatos e conteúdos. É uma tendência e o jornalismo viu que o público gosta e absorveu isso.

Muitos comentaristas, a maioria ex-atletas, ainda defendem a discussão dos lances do jogo e desvalorizam o uso das estatísticas e da análise tática. Porque você acha que ainda há esse medo ou preconceito com a análise tática por parte desses profissionais?

Respeito opiniões e acredito que tudo o que é novo provoca esse estranhamento. A história nos mostra que sempre quando há um avanço, em alguma área, há também um processo contrário contra esse avanço. É o mesmo: técnicos, jornalistas e jogadores que priorizam a tática já sofreram esse efeito, mas o próprio futebol vem mostrando que os que criticam vem ficando para trás. O preconceito machuca, mas em alguns anos sempre se mostra a pior escolha.

Recentemente, vários treinadores brasileiros falaram que o estudo e a preparação dos treinadores não é algo realmente necessário, que os conhecimentos práticos seriam suficientes. Como você acha que essa visão mais ampla do futebol, com maior formação, pode ser difundida entre os treinadores?

Sinceramente, vi poucos treinadores falando isso. Recentemente, só o Renato Gaúcho. De resto, a maioria reconhece como é importante a atualização, o estudo e a integração entre diversas áreas do conhecimento.
Foto: Victor Salgado / Barcelona


Você acredita que a implantação de um mesmo esquema de jogo em um time, desde a base, como feito no Barcelona e mesmo na seleção alemã, é um dos fatores iniciais importantes na formação de um time de qualidade se pensando a médio e longo prazo? 

Sim, com certeza. Além do esquema, o que importa é o modelo de jogo. É ele que deve ser praticado desde a base para que ela dê frutos para o time principal, sabendo que, de um grupo de 20 jogadores do sub-20, se 4 vingarem no principal já é um número alto. Mas para isso é preciso tempo, estabilidade política e preparo metodológico, o que sabemos que é uma utopia no Brasil.

No futebol atual, podemos dizer que não há uma fórmula para a vitória, se falando em esquemas táticos? Porque por algum tempo muito se falou em copiar e usar o esquema do Barcelona de Guardiola ou da seleção espanhola e alemã, porém depois vimos, com Simeone no Atlético de Madrid e mesmo no Leicester de Ranieri, que o resultado pode ser alcançado sem tanta posse de bola e em um estilo de jogo com trocas rápidas de bola, bem diferentes da posse massiva de bola dos exemplos citados. 

Acredito que nunca houve fórmula para o futebol. É possível ganhar de diversas maneiras, jogando de diversas formas. O choque entre Barcelona e Atlético de Madrid, depois o Leicester, nos ensinou muito bem isso, algo que andava sendo esquecido no auge do Barcelona, entre 2010 e 2012. Tudo depende do modelo de jogo, das escolhas do treinador e das características individuais do elenco. O papel de qualquer treinador é pensar o jogo partindo de suas ideias e de seu elenco. Não existe ideia boa ou ruim, apenas escolhas.

Que livros ou que materiais você recomenda para os jornalistas, futuros jornalistas e mesmo torcedores conheçam mais de tática?

"Guardiola Confidencial", "A Pirâmide Invertida", "Virando o jogo" e outros.

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