segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Guarani e Portuguesa: Acessos e quedas



Salve Salve Nerds!

Foto: Futebol Interior
Em 2016, dois times tradicionais do futebol paulista e brasileiro estiveram em destaque. O Guarani positivamente e a Portuguesa mais negativamente. São duas equipes que enfrentam e enfrentaram problemas graves de administração e viram as participações na primeira divisão se tornarem um sonho mais distante.

História e passados gloriosos


O Guarani Futebol Clube foi fundado em 1911. No alto de seus 105 anos de existência, o time já foi campeão do Brasileiro em 1978 e da Série B em 1981. A equipe de 1978, comandada por Careca, Zenon, Zé Carlos e Neneca no gol, fez história e foi a primeira e até agora única equipe do interior do Brasil a ser campeã brasileira da primeira divisão.  

Além dos grandes nomes do final da década de 1970, o clube bugrino revelou nomes de peso na década de 90. Jogadores como Luizão, Amoroso, Evair, Mauro Silva e Neto fizeram o time viver anos importantes na elite do futebol nacional. 

Djalma Santos, dos maiores ídolos da história da Portuguesa
Clube da colônia portuguesa que veio morar em São Paulo, a Portuguesa é outro clube com muita tradição. Tradição essa que já vem dos anos 50, quando o time levou jogadores para a seleção brasileira e foram campeões duas vezes do torneio Rio-São Paulo, em 52 e 55. Desse, que é considerado por muitos torcedores como o melhor time da lusa na história, estava Djalma Santos. 

Nos anos 70, foi campeão paulista em título dividido com o Santos, em 1973. Um dos grandes nomes revelados pelo clube, que acabou virando ídolo do Corinthians anos depois, era Basílio, o autor do gol que acabou o jejum corintiano em 1977. 

Na década de 90, o time de 96 é o mais lembrado, equipe que foi vice-campeã brasileira, perdendo a final para o Grêmio. No elenco, estavam nomes conhecidos, como Clemer, Capitão (jogador que mais vestiu a camisa da Portuguesa, mais de 500 jogos), Alexandre Gallo, Zé Roberto, ele mesmo e revelado pelo clube, Alex Alves e Rodrigo Fabri. Podemos também citar Dener, o atacante de raro talento e que acabou falecendo precocemente em 1994 e foi revelado pela Portuguesa. 
A Lusa, além dos torneios Rio-São Paulo citados, foi campeã paulista em 1935, 36 e 73. Ganhou a Série B de 2011.

Crise e quedas

Nos últimos anos, os dois clubes vem passando por crises devastadoras e que aos poucos foram destruindo a estrutura futebolística que tinham. Estádios foram leiloados e o Canindé ainda está em leilão, sedes sociais ameaçadas e dentro de campo times que pouco lembram os anos gloriosos dos dois. Administrações muito ruins fizeram Portuguesa e Guarani chegarem próximos do fundo do poço.

Protesto dos torcedores no rebaixamento do Guarani para a série C - Foto: Gazeta Press


O Guarani disputou a primeira divisão pela última vez em 2010. O time foi vice-campeão da segundona em 2009. Jogou a série C em 2008, subiu para a B e em 2009 já conseguiu o acesso para a primeira divisão. Porém, sem tanta estrutura, o time que conseguiu acessos rápidos também caiu rápido. Já em 2010 o bugre caiu para a segundona, terminando o brasileirão em décimo oitavo lugar.

Em 2011, se manteve ainda na segundona, terminando em décimo segundo lugar. Já no ano seguinte, não conseguiu e caiu para a terceira divisão, fechando em décimo oitavo. Foi o oitavo rebaixamento do clube em 11 anos. Na terceirona de 2013, o Guarani não conseguiu passar da fase de grupos e ficou em sexto no grupo B. Foi sétimo no grupo B em 2014 e sexto ano passado, quase passando de fase. 

No campeonato paulista, o time também não vem de boas campanhas. Caiu para a segundona estadual e também não conseguiu subir em 2016. Ficou em nono lugar e não chegou nem a passar de fase para os mata matas da competição. 

Fora dos gramados, o bugre quase viu o Brinco de Ouro da Princesa, estádio do clube, ser leiloado. O estádio foi colocado como um bem para quitar o valor de mais de 300 ações trabalhistas. Uma empresa comprou o estádio por leilão, mas a compra foi cancelada e outra empresa, parceira do Guarani, conseguiu comprar o estádio em novo leilão e por enquanto manter o time com posse do Brinco de Ouro. Como essas ações aconteceram em 2015, poderemos ainda ter novos capítulos dessa história na justiça.

Foto: Fernando Dantas / Gazeta Press


Em 2013, a Portuguesa disputava o Campeonato Brasileiro, na primeira divisão. O clube não esbanjava em jogadores, mas conseguiu se manter na elite. Com o escândalo ocorrido após a descoberta da escalação irregular do jogador Héverton, a lusa foi rebaixada para a segunda divisão por perder os pontos da partida realizada contra o Grêmio.

Muitas foram as acusações e os possíveis culpados, mas até hoje não há uma resposta para o caso. Alguns dizem que o clube recebeu dinheiro, que Héverton recebeu, mas nada de concreto. Na Série B de 2014, o time fez uma campanha pífia, com 25 pontos somados e o último lugar na tabela, rebaixamento novamente e para a série C.

Na série C, o time fez a segunda melhor campanha no grupo B, ficando atrás apenas do Londrina. Nas quartas de final, a Portuguesa encarou o Vila Nova e perdeu os dois jogos, por 1 a 0 e 2 a 1, sendo eliminada. E nesse ano, o time novamente jogou a terceirona, mas fez outra campanha muito ruim. Ficou em nono lugar no grupo B, sendo rebaixada para a quarta divisão nacional, com 14 pontos, 4 vitórias, 2 empates e 12 derrotas.

Não há precedentes para a crise que o time enfrenta. É a primeira vez que a Portuguesa jogará a quarta divisão em sua história, podendo correr o risco de no futuro não ter uma vaga em qualquer divisão nacional, dependendo das campanhas que fizer no estadual e na própria quarta divisão. Estadual que o clube não disputa a primeira divisão também, a lusa atualmente está na segunda divisão e passou perto de cair para a terceira esse ano.

Com várias dívidas trabalhistas não pagas a jogadores, o time da colônia portuguesa pode vir a perder o seu maior símbolo, o Canindé. O estádio luso foi colocado para leilão de 45% de sua área, já que os outros 55% são de posse da prefeitura de São Paulo. Para evitar essa ação, o clube tenta tornar o estádio patrimônio da cidade, que assim não poderia ir à leilão.

Toda essa crise, causada por falta de planejamento e por administrações que deixaram de lado a saúde financeira do clube. Em entrevista para o blog do torcedor da Portuguesa, do Globoesporte.com, o presidente do clube falou da realidade em que estavam:

 "A renda do ginásio está penhorada. A renda dos jogos no estádio está penhorada. A verba que entra de patrocínio está penhorada. A receita das federações para participar de campeonatos está penhorada. Praticamente todo centavo que cai no caixa do clube é penhorado no mesmo instante. Querendo ou não, a Portuguesa só sobrevive na base das doações. Cheguei aqui com a luz quase sendo cortada e atraso até no pagamento da conta de água".

O acesso

Mesmo não estando na melhor das situações, o Guarani aos poucos vai se reestruturando e tentando voltar ao seu lugar de grandeza. Desde 2012, um dos ídolos recentes do clube vem honrando a camisa bugrina e foi de importância fundamental para a boa fase do time. Fumagalli voltou ao clube que defendeu pela primeira vez em 2000 e é ídolo com 252 jogos disputados. O camisa 10 foi a peça principal do time que em 2016 fez história na série C, com suas assistências e os nove gols marcados.

Na primeira fase da terceirona, o time de Campinas fez bonito e passou em primeiro lugar, com 38 pontos, 11 vitórias, 5 empates e 2 derrotas apenas. Melhor campanha no geral. Nas quartas de final, o time encarou o ASA de Arapiraca, perdeu o primeiro jogo por 3 a 1 e conseguiu a virada na volta, vencendo por 3 a 0 e conquistando assim o acesso para a segunda divisão.

Na semifinal, o desafio dos mais espetaculares que o futebol já viu ser superado. Na partida de ida, o time visitou o ABC de Natal e fez a pior partida na competição, perdendo por 4 a 0. Para a volta, pouco mais de 3 mil torcedores acreditaram em uma virada do time, que aconteceu. Com Fumagalli inspirado, marcando três gols e dando uma assistência, a equipe tirou o impossível do dicionário bugrino e venceu por 6 a 0.

Foi um jogo tão emocionante que, se você ainda não viu os melhores momentos, veja abaixo:



Na decisão, o time não conseguiu superar o Boa Esporte e ficou com o vice, empatando a ida em casa em 1 a 1 e perdendo fora por 3 a 0. O que fica dessa campanha é o resgate do futebol do Guarani, com grande trabalho do treinador Marcelo Chamusca, e da esperança dos torcedores em dias melhores. Não sabemos como será o futuro do bugre no futebol, mas acreditamos que o bom trabalho esteja voltando a ser feito pelo time como um todo. 

O exemplo do Guarani serve de inspiração para a Portuguesa. A equipe, agora na última divisão nacional, terá que remar muito e trabalhar um passo de cada vez para voltar a sonhar com voos mais altos no futebol. Temos exemplos do Bahia e Santa Cruz, que caíram de divisão em sequência e conseguem hoje uma sobrevida, apesar do praticamente certo rebaixamento do Santa Cruz na primeira divisão.

O futebol atual exige planejamento e administrações sérias para que funcione. Já foi criado o chamado Profut, que exigirá dos times controle nos gastos e pagamento de dívidas, podendo haver sanções como perda de pontos em campeonatos e até rebaixamentos. Os clubes que não seguirem essa linha, infelizmente, deverão ter caminhos tenebrosos no futuro.

Até mais!

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