Por João Vitor Rezende
Foto: Daniel Castellano/Paraná Online
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Um
dia desses, conversava com o pai do meu tio (pra deixar bem claro, não é o meu
avô) sobre o futebol brasileiro. Seu Ivair, com mais de sete décadas de
vivência, a maioria delas dedicadas de alguma forma ao futebol. Ele me contou
que o futuro do futebol brasileiro é dos clubes de cidades médias, de 200 a 300
mil habitantes, sendo apoiados e financiados pela própria região.
E
aos poucos, vejo que de alguma forma Ivair está certo. Claro, não significa que
os times grandes estão sentenciados ao caos. Mas sim, que os pequenos
crescerão. Mesmo que a distribuição de renda entre os times brasileiros não
contribua pra isso. Os times do interior de Santa Catarina são a prova disso. Chapecó
e Criciúma têm cerca de 200 mil habitantes cada. Joinville é a maior delas, tem
aproximadamente 550 mil habitantes. Chapecoense e Joinville estarão na Série A do
Brasileirão em 2015.
A
ascensão exige o mínimo de organização dos times do interior. Falando do meu
estado, Cascavel, Foz do Iguaçu e Operário criaram o programa de sócio-torcedor
em 2015. Além do Londrina, que está na Série C, que fortaleceu o projeto já
existente. Cascavel chegou as quartas, parou no Coritiba. O Foz do Iguaçu fez
uma campanha histórica. Foi semifinalista e garantiu vaga na Série D em 2015 e
na Copa do Brasil em 2016. Já o Operário...
Ah,
o Fantasma. Por questões universitárias, me mudei para Ponta Grossa no ano
passado. Por gostar de futebol, já sabia da existência do time. Porém, a empolgação
com o OFEC em 2014 foi pequena e até justificável. Fraco desempenho, torneio da
morte, briga pelo rebaixamento. No fim das contas, o Operário se safou. Sem
calendário, foram longos meses até ouvir novamente o clube da Vila Oficinas
(bairro do estádio Germano Krüger, sede do clube) nas conversas pela cidade.
Pra
esse ano, a diretoria pensou diferente. Era a hora de somar forças. Junto com
empresários locais e o apoio da fanática torcida, um bom elenco foi contratado.
Itamar Schülle, treinador pouco conhecido com rodagem apenas no sul do país, foi
o comandante escolhido. O projeto de sócio-torcedor parecia arriscado, utópico.
Mas aos poucos, conquistou a confiança dos ponta-grossenses. Hoje, mais de 1500
torcedores são sócios.
Alguns
momentos na campanha merecem ser destacados. Na quarta rodada, a vitória fora
de casa contra o Londrina, seguida da goleada aplicada no Prudentópolis, no
primeiro jogo em casa. O gol do arqueiro Jhonatan contra o Nacional de Rolândia
na sétima rodada. A cabeçada de Mateus Lima aos 44 do segundo tempo, que deu a
vitória contra o Atlético. A fatídica atuação contra o Paraná, e o belo gol de
Carlinhos, no revés em casa por 3 a 1.
No
mata-mata, o Operário foi soberano. Invicto, 11 gols marcados, 1 sofrido. A
partida da volta nas quartas-de-final contra o Paraná Clube, lavou a alma dos
torcedores. 3 a 0, vaga garantida na Série D, na Copa do Brasil de 2016, e o
Fantasma voltando a assombrar os times da capital. Nas semifinais contra a
outra surpresa do interior, o Foz do Iguaçu, duelo decidido nos pés de Douglas,
artilheiro do time com 8 gols. Ou “Showglas”, como quiser. Vaga na final
garantida, depois de 54 anos. E pela primeira vez no campeonato, o Operário
iria decidir fora de casa.
E
o Coritiba mostrou que tem medo de Fantasma. Em casa, 2 a 0. Gols de Peixoto e
do iluminado Joelson, que substituiu Douglas, suspenso. Dois tentos que saíram
em jogadas paradas, ponto forte do Operário. Na capital, atuação que mereceu
aplausos, até da torcida adversária. Juba estava em tarde inspirada. Azar o do
Coxa. Doblete, assistência para Ruy e
atuação incontestável, ajudando até na defesa. Três dias depois de completar
103 anos, a torcida recebeu o presente que merecia.
Quatro
mil assombradores estiveram no Couto Pereira. Mas, a atenção e vibração de 334
mil estavam presentes. A força de uma cidade, que empurrou o time. Como se
fosse um trem. Um Trem Fantasma. Até Juba, na comemoração do terceiro gol fez o
símbolo da torcida organizada. Quase que agradecendo a todos que estiveram em
cada um dos jogos do Operário.
Após o jogo, a festa se espalhou por
Ponta Grossa. Uma das principais avenidas da cidade, a Vicente Machado, foi
tomada de apaixonados em preto e branco. Logo após o jogo, os atletas voltaram
para casa. O Germano Krüger nunca esteve tão feliz. O gramado foi palco pra
festa. Que durou até a segunda-feira, com desfile em carro aberto pela cidade.
Nomes como Jhonatan, Danilo Báia,
Chicão, Lucas, Ruy, Juba e Douglas, nunca serão esquecidos pelos operarianos. A
Série D está aí, e não é sonhar demais, pra quem já foi tão longe. Afinal,
Fantasma não tem medo de altura...
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