quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A Volta Dos Que Não Foram



Salve Salve nerds!

Havíamos pedido um breve comentário do nosso amigo Diogo Galline sobre a classificação do Atlético Paranaense, mas ele mais do que gentilmente produziu um ótimo texto. A justificativa do comentário é o fato de ele, ontem, estar presente na Vila Capanema e ter acompanhado a verdadeira epopeia atleticana. Não teríamos a coragem de cortar/editar algo feito por um verdadeiro torcedor, então orgulhosamente apresentamos... A Volta Dos Que Não Foram: 

Lembro-me que certa vez, no auge dos meus 12 anos, estava eu na aula de Estudos Sociais (aquela disciplina que misturava história e geografia, com pitadas de conhecimentos gerais e notícias do Jornal Nacional) quando escutei a célebre frase de meu professor: “a questão entre judeus e palestinos é igual à volta dos que não foram!”. Por conta da idade, deixei a briga dos dois povos de lado e me fixei na frase ‘a volta dos que não foram’.  “Como assim alguém volta, se sequer partiu? Se não foi, então não retorna! Que papo estranho!”. E desde então empurrei a dúvida, junto ao seu notório significado ainda desconhecido, para debaixo do tapete. Todavia, quis a vida que, após mais de 15 anos, a frase finalmente revelasse o seu sentido. E da maneira mais sofrida possível! 
A compreensão plena veio durante a partida decisiva entre o meu estimado Atlético Paranaense contra o simpático Sporting Cristal, valendo vaga na Taça Libertadores. Digo simpático pelo simples fato dessa equipe ter surgido a partir de uma associação entre um time amador com uma cervejaria. Futebol e cerveja, que combinação imbatível! Mas enfim, retornando à partida e a frase... Bastava ao Atlético uma vitória, simples, magérrima, de qualquer placar. Meio a zero já era suficiente! Pensando bem, meio a zero não, já que precisávamos de uma diferença mínima de um gol! Uma a zero era suficiente. Sim, possível era. Mas quase não foi!
Esforçando-se ao máximo para sair de algo que lhe era seu de direito (quem acompanhou a campanha do Furacão em 2013 vai concordar comigo!), o time foi ao limbo por, pelo menos, duas vezes nessa memorável noite! Limbo, isso mesmo! Ao marcar o natural primeiro gol, com a bela cabeçada de Manoel aos 15 minutos do segundo tempo, o time decidiu por tornar a decisão ainda mais dinâmica, permitindo um gol de empate com cara de impedimento. Soma-se ao drama o fato de os dois times estarem se estranhando desde o apito inicial do árbitro paraguaio (para o quê?), o que havia culminado até aquele momento em duas expulsões (ainda teríamos duas outras, uma delas bastante fundamental ao resultado da partida!). 
Um a um. Jogo morno. Atlético desenfreado em busca do resultado positivo. A técnica foi deixada de lado e, ouso dizer, que o técnico também. Aliás, técnico? Segue partida até 49, mas a cada minuto gradativamente o público deixava o puxadinho de nome Capanema. Opa, um minuto a mais de acréscimo, por conta do delay peruano. Drama de um provável e melancólico fim. Entristecíamos ao lembrar do fato de até o Paraná Clube ter passado da pré-libertadores. Sentíamo-nos pleno corinthianos, diante do todo-poderoso Tolima. Sentia. 
Até que de repente, não mais que de repente, a gurizada recém-promovida ao time principal em um jogo decisivo (vulgo fogueira) segue com a bola em direção à meta. Goleiro pega a primeira. Pega a segunda. Pega a terceira. Epa! Mas esse não é o goleiro! É o zagueiro do time peruano que, desprovido da mesma classe de Suarez, na Copa de 2010, retira desesperadamente a bola daquele que seria o gol que levaria o jogo às penalidades. Mais um vermelho e mais um gol de EderShow. Goleiro de um lado, bola do outro. É... Além da classe, o zagueiro peruano também não herdou a sorte uruguaia de Suarez.
A partir dessa primeira ida ao purgatório, os gurus de plantão fariam a seguinte análise “agora ficou fácil para o Atlético! O time entra motivado nos pênaltis!”. Pré-visões... Previsões! Assim como a temperatura de 35ºC do dia contrariou todas as expectativas da fria cidade de Curitiba, as previsões de uma disputa tranquila e favorável ao Furacão passaram bastante longe. E assim como o João de Santo Cristo, conhecemos o inferno pela segunda vez. Em quatro cobranças rubro-negras, dois erros. Do lado peruano, as três primeiras convertidas com sucesso. Nesse espaço-tempo, sentimos o calor de Hades: em duas cobranças do Sporting, bastavam aos peruanos ou acertar uma delas ou defender o último tiro atleticano. Simples... Como amar!
Mas eis que a vida nos surpreende, mostrando que o futebol é, ao lado do amor e do clima curitibano, improvável e imprevisível! Uma defesa inspiradora do goleiro brasileiro, seguida de um gol de categoria rubro-negro e uma cobrança peruana ao melhor estilo Roberto Baggio que mais parecia um field goal recolocaram pela segunda vez o Atlético na disputa! Despedimo-nos do capiroto e voltamos ao mundo real com força e rejuvenescidos!
Depois de duas rodadas de cobranças alternadas, todos os quinze mil torcedores puderam pressentir em seus âmagos que o pênalti de Pedro Aquino seria o último do Sporting, o último do jogo, o último daquele sofrimento chamado pré-libertadores. A mística de seu nome nos dizia inconscientemente isso, uma mistura de Pedro Oldoni com Anderson Aquino. E o resultado foi justamente esse. Bola na trave. Fim de sofrimento. Libertadores, aí vamos nós!
Voltamos à Libertadores! Com drama! Sofrido! E voltamos de um lugar que, por duas vezes nessa memorável noite de quarta-feira, não fomos! Atlético: a volta daquele que não foi!

Diogo Galline





Até mais!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...