segunda-feira, 4 de maio de 2015

Quem tem medo de Fantasma?



Por João Vitor Rezende

Foto: Daniel Castellano/Paraná Online

Um dia desses, conversava com o pai do meu tio (pra deixar bem claro, não é o meu avô) sobre o futebol brasileiro. Seu Ivair, com mais de sete décadas de vivência, a maioria delas dedicadas de alguma forma ao futebol. Ele me contou que o futuro do futebol brasileiro é dos clubes de cidades médias, de 200 a 300 mil habitantes, sendo apoiados e financiados pela própria região.

E aos poucos, vejo que de alguma forma Ivair está certo. Claro, não significa que os times grandes estão sentenciados ao caos. Mas sim, que os pequenos crescerão. Mesmo que a distribuição de renda entre os times brasileiros não contribua pra isso. Os times do interior de Santa Catarina são a prova disso. Chapecó e Criciúma têm cerca de 200 mil habitantes cada. Joinville é a maior delas, tem aproximadamente 550 mil habitantes. Chapecoense e Joinville estarão na Série A do Brasileirão em 2015.

A ascensão exige o mínimo de organização dos times do interior. Falando do meu estado, Cascavel, Foz do Iguaçu e Operário criaram o programa de sócio-torcedor em 2015. Além do Londrina, que está na Série C, que fortaleceu o projeto já existente. Cascavel chegou as quartas, parou no Coritiba. O Foz do Iguaçu fez uma campanha histórica. Foi semifinalista e garantiu vaga na Série D em 2015 e na Copa do Brasil em 2016. Já o Operário...

Ah, o Fantasma. Por questões universitárias, me mudei para Ponta Grossa no ano passado. Por gostar de futebol, já sabia da existência do time. Porém, a empolgação com o OFEC em 2014 foi pequena e até justificável. Fraco desempenho, torneio da morte, briga pelo rebaixamento. No fim das contas, o Operário se safou. Sem calendário, foram longos meses até ouvir novamente o clube da Vila Oficinas (bairro do estádio Germano Krüger, sede do clube) nas conversas pela cidade.

Pra esse ano, a diretoria pensou diferente. Era a hora de somar forças. Junto com empresários locais e o apoio da fanática torcida, um bom elenco foi contratado. Itamar Schülle, treinador pouco conhecido com rodagem apenas no sul do país, foi o comandante escolhido. O projeto de sócio-torcedor parecia arriscado, utópico. Mas aos poucos, conquistou a confiança dos ponta-grossenses. Hoje, mais de 1500 torcedores são sócios.

Alguns momentos na campanha merecem ser destacados. Na quarta rodada, a vitória fora de casa contra o Londrina, seguida da goleada aplicada no Prudentópolis, no primeiro jogo em casa. O gol do arqueiro Jhonatan contra o Nacional de Rolândia na sétima rodada. A cabeçada de Mateus Lima aos 44 do segundo tempo, que deu a vitória contra o Atlético. A fatídica atuação contra o Paraná, e o belo gol de Carlinhos, no revés em casa por 3 a 1.

No mata-mata, o Operário foi soberano. Invicto, 11 gols marcados, 1 sofrido. A partida da volta nas quartas-de-final contra o Paraná Clube, lavou a alma dos torcedores. 3 a 0, vaga garantida na Série D, na Copa do Brasil de 2016, e o Fantasma voltando a assombrar os times da capital. Nas semifinais contra a outra surpresa do interior, o Foz do Iguaçu, duelo decidido nos pés de Douglas, artilheiro do time com 8 gols. Ou “Showglas”, como quiser. Vaga na final garantida, depois de 54 anos. E pela primeira vez no campeonato, o Operário iria decidir fora de casa.

E o Coritiba mostrou que tem medo de Fantasma. Em casa, 2 a 0. Gols de Peixoto e do iluminado Joelson, que substituiu Douglas, suspenso. Dois tentos que saíram em jogadas paradas, ponto forte do Operário. Na capital, atuação que mereceu aplausos, até da torcida adversária. Juba estava em tarde inspirada. Azar o do Coxa. Doblete, assistência para Ruy e atuação incontestável, ajudando até na defesa. Três dias depois de completar 103 anos, a torcida recebeu o presente que merecia.

Quatro mil assombradores estiveram no Couto Pereira. Mas, a atenção e vibração de 334 mil estavam presentes. A força de uma cidade, que empurrou o time. Como se fosse um trem. Um Trem Fantasma. Até Juba, na comemoração do terceiro gol fez o símbolo da torcida organizada. Quase que agradecendo a todos que estiveram em cada um dos jogos do Operário.

Após o jogo, a festa se espalhou por Ponta Grossa. Uma das principais avenidas da cidade, a Vicente Machado, foi tomada de apaixonados em preto e branco. Logo após o jogo, os atletas voltaram para casa. O Germano Krüger nunca esteve tão feliz. O gramado foi palco pra festa. Que durou até a segunda-feira, com desfile em carro aberto pela cidade.

Nomes como Jhonatan, Danilo Báia, Chicão, Lucas, Ruy, Juba e Douglas, nunca serão esquecidos pelos operarianos. A Série D está aí, e não é sonhar demais, pra quem já foi tão longe. Afinal, Fantasma não tem medo de altura...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...